Então
tu pensas que há muitos casais como nós por esse mundo? Os nossos mimos, a
nossa intimidade, as nossas carícias são só nossas; no nosso amor não há
cansaços, não há fastios, meu pequenito adorado! Como o meu desequilibrado e
inconstante coração d'artista se prendeu a ti! Como um raminho de hera que
criou raízes e que se agarra cada vez mais. Vim para os teus braços chicoteada
pela vida e quando às vezes deito a cabeça no teu peito, passa nos meus olhos,
como uma visão de horror, a minha solidão tamanha no meio de tanta gente! A
minha imensa solidão de dantes que me pôs frio na alma. Eu era um pequenino inverno
que tremia sempre; era como essa roseira que temos na varanda do Castelo que
está quase sempre cheia de botões mas que nunca dá rosas! Na vida, agora há só
tu e eu, mais ninguém. De mim não sei que mais te dizer: como bem mas durmo
mal; falta-me todas as manhãs o primeiro olhar duns lindos olhos claros que são
todo o meu bem.
Florbela Espanca, in "Correspondência (1921)"
Florbela Espanca, in "Correspondência (1921)"
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